A juventude não foi feita para o prazer, mas sim para o heroísmo!

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Limpar a poeira e tirar o mofo I



Pe. David Francisquini

A propósito de recentes estatísticas apontando o crescimento das facções protestantes em detrimento da religião católica, recordo-me que no final da década 1960 um jornalista muito arguto e pouco fiel à nossa santa fé chegou a afirmar que o Brasil não tardaria a se transformar no maior país ex-católico do mundo.
À época, eu cursava o Seminário Menor no Paraná e já podia perceber a transformação paulatina e persistente nos meios católicos através de sacerdotes ditos progressistas. Com ou sem pretexto, eles compareciam no Seminário a fim de fazer reuniões, acenando sempre para uma mentalidade nova a contrarrestar valores então vigentes, qualificados não sem alguma malícia de “empoeirados” ou cobertos de mofo.
Por ser conservadora, a diretoria do referido seminário começou a sofrer pressão de um órgão do Vaticano e do episcopado paranaense para se adaptar aos novos tempos, sob pena de abandonar aquela casa de formação sacerdotal. Seu ex-reitor deve possuir em seus arquivos os documentos que exigiam a sua cabeça e a dos demais sacerdotes que o coadjuvavam.

A diocese tinha cerca de cem seminaristas menores, doze mil congregados marianos e filhas de Maria, além de outras associações de leigos. Um sacerdote aggiornato do Rio Grande do Sul, encarregado pelo bispo, visitava uma a uma dessas associações, sempre propondo limpar a poeira e tirar o mofo através da modernização, mesmo que precisasse desautorar o sacerdote que dirigia as referidas associações.
Num ambiente assim hostil ao ensino tradicional, surgiu uma nova liturgia. O altar do santo sacrifício da Missa foi substituído por uma mesinha de frente para o povo, músicas profanas foram introduzidas nas celebrações, o espírito religioso dos fiéis cedeu lugar a uma mentalidade mundana, e muitas vezes se parodiavam os protestantes. Já no Seminário Maior em Curitiba, presenciei e ouvi de um sacerdote no sermão a apologia do protestantismo ao afirmar que a Igreja havia mudado sua posição.
        À noite daquele mesmo dia, com a presença de todos os seminaristas, católicos e protestantes se reuniram numa igreja da capital paranaense. No púlpito se revezavam padres e pastores. Houve padres que ousaram defender o fim do celibato. A partir daí, muitos sacerdotes passaram a sofrer de um mal que ficou conhecido como “crise de identidade”, outros ainda lamentavelmente abandonavam o sacerdócio em decorrência das novidades surgidas a partir do Concílio Vaticano II.
Para os avisados a notícia da redução do número de católicos no Brasil não chega a surpreender, pois o ambiente vinha sendo amplamente preparado, como se pode observar na leitura do livro “Em defesa da Ação Católica”, de Plinio Corrêa de Oliveira. Nessa obra, escrita em 1943, o autor mostra a mudança não apenas de comportamento, mas igualmente de doutrina, a partir de uma ala modernista que se tornou atuante já na década de 1930, não respeitando os tradicionais ensinamentos da Santa Igreja.

Às vezes me pergunto se o clero brasileiro, sobretudo o episcopado, está realmente preocupado com a defecção e apostasia dos católicos que passam a engordar as fileiras do protestantismo. Fala-se muito em ecumenismo nos meios católicos, mas como o clero teria deixado escapar tantas ovelhas de seu rebanho? São os católicos que estão fazendo proselitismo para esvaziar os ambientes das seitas protestantes, ou são estas que se aproveitam da decadência religiosa e do clero? Como fica o dogma de que fora da Igreja não há salvação?

    Essas perguntas me vêm ao espírito ao imaginar a situação alarmante daqueles que apostataram ao renegar a fé recebida no santo batismo. Qual teria sido a causa mais profunda desse abandono em massa – um terço dos católicos – da fé no único Deus verdadeiro e da religião única e verdadeira desse mesmo Deus que é a Santa Igreja Católica Apostólica Romana? Para responder tais interrogações, precisamos analisar a vida religiosa antes do Concílio Vaticano II, assunto que fica para um próximo artigo.

Fonte: Pe. David Francisquini, agosto de 2012.

sábado, 1 de setembro de 2012

50 anos depois, padres jovens retomam a batina que padres velhos jogaram fora para dar impressão de jovens



Há 50 anos a “libertação” da batina era tida gesto “jovem”
Luis Dufaur

Há 50 anos o cardeal arcebispo de Paris, Mons. Maurice Feltin, aprovou que os padres deixassem de usar a batina em condições normais.
Sua decisão, tomada em 29 de junho de 1962, não se apresentou como doutrinária ou moral, mas pastoral, visando adaptar os costumes eclesiásticos às mutações da sociedade. De fato, significou uma mudança histórica e foi acompanhada no mesmo ano pela maioria das dioceses francesas.

O “clergyman” foi acolhido até com euforia por sacerdotes novos e “beatas” de sacristia, relembrou o colunista da revista “La Vie”, Jean Mercier em artigo sob o sugestivo título de “A veste de luz”.
Mercier insiste na “embriaguez de modernidade” daquele momento pouco anterior ao Vaticano II para se compreender que a mudança foi recebida como “verdadeira liberação”.

Hoje, jovens eclesiásticos querem a batina.
Foto: seminaristas em cerimônia de tomada de batina
Aproximadamente desde o Concílio de Trento os sacerdotes usavam batina para se diferenciarem do resto dos homens.

A batina adquiriu sua forma bem conhecida no século XIX. Escreve Mercier:
“Faz pensar na morte, na Cruz. O sacerdote que a veste [a batina] se compromete a imitar a Cristo casto e pobre. Ela sinaliza sua renúncia ao prazer e à sedução e, num sentido mais largo, sua renúncia ao mundo, quer dizer, ao sistema que marca as relações humanas pelo desejo de poder, dinheiro e aparência. A batina é uma forma de túmulo. Ela faz eco à antiga prática de se revestir de um ‘véu mortuário’ na cerimônia de entrada de religiosos e religiosas em religião, para simbolizar a morte à vontade própria e ao mundo”.

Em 1962 tudo isso ficou para trás: a lógica do abandono da batina foi a mesma da abertura ao mundo profano, laicizado, que repelia a submissão e a obediência.
Por isso foi uma ruptura enorme.


Para o simples fiel, padre sério anda de batina
O “clergyman” durou muito pouco e acabou sendo abandonado na onda da revolução libertária de Maio de 68.

“É proibido proibir”, clamavam nas ruas operários, estudantes e sacerdotes rebeldes contra toda restrição, inclusive a sexual.
Porém, 50 anos depois, os papeis se inverteram. São os sacerdotes jovens que querem usar a batina cuja abolição os velhos defendem.

Mercier constata, espantado, que não se trata apenas de jovens sacerdotes tradicionalistas: “Hoje, o grande assunto entre os padres é saber se eles têm a coragem de assumir a batina”, dizia um deles ao jornalista.
No modo de ver dos simples fiéis, a batina está primeiramente associada à ideia de tradicionalismo.

Em segundo lugar, diante do padre jovem de batina, o fiel pensa tratar-se de alguém que celebra discretamente a missa tridentina em latim, sob a forma aprovada pela Santa Sé como “extraordinária”.
No fundo da cabeça da pessoa da rua – constata Mercier – a imagem do padre verdadeiro continua ligada à batina, malgrado as transformações introduzidas pelo Vaticano II.

Um sacerdote amigo do colunista lhe contou que foi a Lourdes recentemente com outro padre. Só que este último usava batina, e ele só um clergyman preto.
Capelão militar em Lourdes
Mercier apresenta esse padre de clergyman como um homem de boa presença e “carismático”, e o de batina como tímido, pouco dotado de qualidades e brilho pessoal.

Entretanto, quando iam pelas ruas de Lourdes, eram parados sem cessar por peregrinos que pediam para benzer objetos.
“Em momento algum eles se dirigiram a mim, contou o padre de clergyman, embora fosse evidente que eu sou padre, mas sempre a meu amigo de batina. Eu acredito que era por causa da batina. Ela exerce efeito especial sobre as pessoas que estão longe da Igreja, um atrativo poderoso”.

Mercier diz que teria muitos outros testemunhos no mesmo sentido para narrar.
Para os padres de mais 60 anos – acrescenta – a batina é um retrocesso, é arrogância, endurecimento ideológico, uma renúncia a tudo pelo que eles combateram na vida.

Mas os jovens sacerdotes, os quais voltaram a usá-la em 2012, pensam que ela serve melhor para evangelizar. Em se tratando de “dar testemunho”, que melhor testemunho pode haver que andar de batina pelos logradouros públicos?
Cena em Roma: batina contradiz maus costumes
Mas para Mercier, que não é amigo da batina, há um problema muito delicado.

A batina está ligada estreitamente ao celibato e os padres sentem muito isso.

Optar por não casar para seguir a Jesus Cristo e trabalhar pelo Reino de Deus: isso a batina prega como nenhum outro símbolo.
“A veste preta que cobre o corpo todo, escreve Mercier, é um escândalo para um mundo que exibe a carne, onde prevalece um conformismo social tirânico em matéria de sexualidade, onde se afirma ser anormal que alguém não seja sexualmente ativo. Ora, o sacerdote que pratica a castidade e escolhe o celibato encarna a resistência contra esse modo de pensar dominante. O fato de usar batina participa da radicalidade de Cristo e de seu Evangelho”.
Mercier recomenda a seus amigos, sacerdotes e leigos engajados como ele no movimento progressista e que hoje se sentem cada vez mais frustrados, não polemizar com os jovens padres de batina.
Se isso acontecer eles vão radicalizar mais e a situação vai ficar pior para aqueles que um dia julgaram que conquistariam o mundo mostrando-se “jovens” e jogando as “velharias” da Igreja pela janela. Como a batina…
Fonte: IPCO, agosto de 2012.