A juventude não foi feita para o prazer, mas sim para o heroísmo!

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Para sua apreciação, análise e cometário!

Você é indiferente às diferenças?


Leo Daniele

Um casal distinto. Vê-se até pelo modo de fazer sinal para o taxi. O marido abre a porta para a senhora subir. É um casal de meia idade, da sociedade de São Paulo. Bem vestido, sem excessos. Mas para Josmair, o motorista, eram apenas dois passageiros comuns. “Contanto que paguem pela corrida, são todos iguais”. Banco da frente, banco de trás, dois mundos. Completamente indiferente às diferenças, Josmair tinha apenas certo receio de que eles fizessem exigências. Qual nada, apenas pediram para desligar o rádio, que vociferava uma música agitada e de mau gosto, o que Josmair fez com certa má vontade. Fora disto, a corrida transcorreu e terminou normalmente.

Passou-se uma par de horas, de volta para casa o marido faz novamente sinal para outro taxi. O motorista era Raimundo, um brasileiro expansivo que percebeu logo tratar-se de um casal distinto. Preocupou-se em que estivessem bem cômodos, em que o ar condicionado estivesse bem para eles. Desligou o rádio espontaneamente, pois sentira um pouco de temor reverencial diante do refinamento daquele par. Transmitia, em suas palavras, a simpatia que sentia, e a simpatia era recíproca. O terço preso no espelho do carro completava o episódio.

Nem ele nem o casal eram indiferentes às diferenças: os passageiros eram distintos e amáveis, ele era atencioso e serviçal. E quando terminou a corrida, Raimundo, em mau português, disse: “A zorde, patroa”. Enquanto dava a partida, disse para seus botões, em termos também muito populares: “Gente fina é outra coisa!”

Duas atitudes típicas, a de Raimundo e a de Josmair. Muito diversas em termos de sensibilidade. Josmair era indiferente às diferenças, o que não acontecia com Raimundo.

Como é óbvio, esse problema da indiferença diante das diferenças não existe apenas entre os motoristas de taxis e os passageiros… Os exemplos dados mostram episódios minúsculos, mas não esqueçamos de que a vida é feita quase toda de pequenos episódios.

Às vezes um povo inteiro pode não ser indiferente às diferenças. Por exemplo, os ingleses ao rebatizar a famosíssima Torre do Big-Ben, às margens do Tâmisa, com o nome de Elizabeth Tower, por ocasião das bodas de diamante da coroação da atual rainha da Inglaterra. Isto foi há dias.

Temos então duas atitudes possíveis: a admiração de quem é sensível às diferenças e o fechamento do egoísta. Por exemplo, uma pessoa vai caminhando por uma rua de Ouro Preto, e se depara com uma linda igreja colonial, ou com uma obra do Aleijadinho. Ou a aprecia e admira, ou a vê como se fosse uma banalidade, e não desperta nela nenhuma reação. É tanta a indiferença, que pode até escrever seu nome com um canivete no pedestal da obra de arte. Vale tudo para um indiferente.

Dr. Plinio põe nos lábios de uma pessoa que seja assim as seguintes palavras: “eu entro na minha ‘vidinha’, meu trabalhinho, meu estudinho, meu probleminha, minha carreirinha, meu dinheirinho”[1], mas não penso nas coisas maiores, para as quais nasci e que devo analisar, devo admirar ou rejeitar. Este se entrega à “vidinha”.

Pode ser o pensamento de alguém que deseja ser “indiferente às diferenças”. Ou a atitude de alguém diante das desigualdades que vê nos outros. Pois essa indiferença é uma atitude prática: podemos afundar tranquilamente em nosso egoísmo, sem precisar julgar a fundo coisa alguma, nem muito menos fazer um elogio, ou enunciar uma crítica. Ora, as diferenças existem para as considerarmos sem indiferença, com elevação e nobreza de alma.





[1] Conferência em 1966.

 Fonte: IPCO, julho de 2012.

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